25 de novembro de 2009
O Rodízio de Pizza
Essa é mais uma no mínimo, curiosa. Creio eu que o ano era 1998 e em Ilha Solteira ainda não havia uma pizzaria, das poucas que existiam na cidade, que ofereciam o tão conhecido pelo Brasil a fora, RODIZIO DE PIZZA! Não amigos... não escrevi 1898, escrevi sim 1998, ou seja: Há 11 anos atrás foi que o rodízio de pizza chegou em Ilha Solteira, acreditem se quiser. O “papa” dos empreendimentos que teve esta brilhante idéia, foi o proprietário da famosa pizzaria Biruta.
Me recordo que o rodizio começaria a ser servido em um sábado. Vários cartazes foram espalhados pela cidade, pois agora, o filão do “business” de Ilha Solteira seria o rodizio de pizza. O problema é que para a infelicidade do nosso homem de negócios, os primeiros clientes não foram nem de perto o que ele esperava, de acordo com seus cálculos de consumo médio de pizza por pessoa. Eu explico o porque...
Sábado era o tradicional dia do rachão da turma do basquete. No nosso curso de engenharia mecânica, tinhamos uma turma boa de bola. Aquele dia, o rachão começou por volta das duas da tarde e se estendeu quase até às seis. Terminado o jogo, me recordo que sentamos na quadra para conversar um pouco, quando o nosso amigo Frei faz o seguinte comentário:
“Ouvi falar que hoje vai inaugurar o rodízio de pizza do Biruta. Vamos nessa galera?”De bate pronto, todos os que estavam ali no local toparam a idéia. Só iriamos para nossas casas, no meu caso o alojamento, tomar um banho e trocar de roupas. O Frei se habilitou a ir pegar todos para irmos no carro dele até a pizzaria, já que ele era um dos poucos da turma que havia carro naquela época, um golzinho bola.
Chegada a hora combinada, o Frei passou no alojamento e recolheu a galera. O ponto de encontro marcado era na frente do alojamento. Me lembro que quando o guarda que fazia a segurança do alojamento, viu aquela meia duzia de marmanjos entrando no golzinho, o cara até ficou assustado e percebeu que não só o fusca que era como coração de mãe. O golzinho também rendeu e seis homens estavam se espremeram lá dentro.
Vocês devem pensar: “Bem, seis pessoas dentro de um carro, não é nada demais?”. Concordo. O problema, é que dos seis elementos que estavam entrando naquele carro, eu era o menor de todos, tanto em altura quanto em largura. Só para vocês terem uma idéia, eu na época tinha a mesma altura 1,81m e pesava uns 85 kg mais ou menos. Os outros, vejam só a escalação: Frei (o dono do carro, 1,90m e uns 100kg), Rincon (vulgo “senhor negão”, 1,92m e na época uns 95 kg), Hipopó (1,80m e uns 100kg), Simonetti (1,93m e 95kg) e pra fechar a contenta o Cramunhão (1,92m e uns 95kg). Quem conhece os caras que listei, deve estar dando risada só de imaginar seis mamutes dentro de um gol bola.
O pior vem a seguir. O golzinho foi rebaixado, se arrastando no chão, do alojamento da faculdade até a pizzaria Biruta. Recordo que enquanto o Frei manobrava o carro no estacionamento, o dono do estabelecimento ainda estava com um sorriso no rosto, esperando alegre e contente a clientela que daria um “boost” no seu empreendimento. Afinal de contas, o cidadão acreditava que teve a sacada mais brilhante que alguém já teve na cidade, desde que algum outro brilhante da CESP (Compania Energética do Estado de São Paulo) resolveu construir uma usina hidrelétrica as margens do Rio Paraná e fundar a cidade.
Quando ele nos viu descendo de dentro do carro, seu rosto se modificou. Aquele sorriso de quem havia acabado de ganhar na mega-sena, se transformou em um olhar de preocupação e de certa forma desespero. Algo que depois foi confirmado na hora que a trupe começou as atividades.
Dava gosto de ver a rapazeada comendo. Seis “pequenos” esfomeados, após 4 horas de basquete. Creio que vocês conseguem imaginar o tamanho do estrago que seria feito no local. Passa a primeira forma de pizza, com 8 fatias, não sobra mais nenhuma para a mesa seguinte. Passa a segunda forma, a terceira e a cena se repete. Nesta hora vejo o proprietário do estabelecimento com a sua somadeira na mão, tentando fazer um rápído cálculo para descobrir algo que já estava implicito desde o começo: ele iria levar prejuizo com aqueles seis elementos lá no restaurante. O “break-even” da quantidade pizzas por cabeça versus lucro, já havia passado seu ponto ótimo na terceira rodada de pizza!
O proprietário do lugar estava suando mais que o Simonetti. A diferença era que, enquanto o proprietário estava suando pensando no dinheiro que iria perder, o Simonetti estava suando de tanto comer. Parecia uma máquina niveladora, que depois que começa só para quando termina a empreitada.
O Rincon lembrava um daqueles pobres coitados que vemos nas fotos da Etiópia. Não porque ele era negro, não isso, mas porque parecia que o menino não via comida há semanas! Realmente era uma atração a parte observar o pessoal devorando as fatias de pizza como se fossem canapés de festinha de bacana.
Após acabarmos com o estoque de farinha de trigo e ingredientes da pizzaria, ainda vem o Hipopó e pede um calzone só pra “rebater”. Nessa hora o nosso homem de negócios já não tinha mais nenhum fio de cabelo na sua cabeça. Já havia arrancado todos!
Liquidamos a fatura, pedimos a conta e o garçom chega com a conta, individuais é claro que, somando o que haviamos bebido, não daria mais que 15 reais por cabeça. Diga-se de passagem, só o rodizio seria algo em torno de 8 reais per capita.
Com lágrimas nos olhos, o proprietário vem perguntar se gostamos do rodízio, e sem demora, nosso amigo Simonetti solta:
“Olhe cara, só achei que demorou demais o intervalo entre uma pizza e outra! No resto estava bom.”Não sei se ria ou se chorava pra me solidarizar com o proprietário. Honestamente não sei o porque, mas no dia seguinte o preço do rodizio de pizza havia praticamente dobrado. Alguém consegue imaginar o motivo?
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