18 de novembro de 2009

Prazer. Meu nome é "Engenheiro"

Posted on 12:48 by Wesley N Rodrigues

As vezes eu gostaria de saber se certas coisas aconteciam em outras escolas e em outros cursos. Ou se realmente os caras que estudaram comigo tinham um parafuso a menos...

Me lembro que naquele ano de 1999 em Ilha Solteira, as últimas notas sairam por volta do dia 9/10 de dezembro e a colação de grau e o baile estavam marcados para dia 18 e 19 do mesmo mês. Não era o costume. Geralmente as formaturas da nossa faculdade aconteciam em janeiro, com tempo do pessoal curtir as famílias no Natal e ano novo, antes de pegar o canudo e sair pro mercado de trabalho. Muitos da nossa turma, pra não dizer todos, já estavam com destino certo na indústria ou em outras universidades para cursar o mestrado.

O curso de engenharia mecânica naquele tempo era privilegiado. Tinha um centro computacional privativo para os alunos do curso e era monitorado por algum aluno que era bolsista. Esse centro computacional se chamava NAC-CEM.

Na época, MSN, Orkut, isso não existia. O que muitas vezes fazia a alegria da moçada era o chat provido pelo UOL, famoso até hoje. A moçada passava horas ocupando os computadores tentando conhecer menininhas via net nas suas cidades de origem para combinar os eventos nos feriados e férias. Lamentável, não?

No último dia de aula, para não ser diferente, todos os formandos após pegarem as notas e saberem que iriam se formar, foram felizes e contentes para o NAC-CEM paquerar as menininhas pela net. Só que agora sem usar aqueles “nicks” (apelidos) chinfrim como: “bonitão”, “gato”, “moreno selvagem”, ou coisas do tipo. A onda agora éra: “ENGENHEIRO bonitão”, “ENGENHEIRO gato” ou “ENGENHEIRO moreno selvagem”. A referência a ENGENHEIRO tinha que aparecer! Afinal de contas, mesmo sem o canudo na mão, já eram engenheiros! Os anos de sofrimento tinham chegado ao fim. Agora era a hora da fama e do estrelato!

Entre os presentes no centro computacional aquele dia, estava meu grande amigo PG. O PG era um carinha sui generis. Playboy, sempre bem vestido, uma exceção ao “dress-code” da faculdade. Enquanto todos andavam de chinelão, bermuda e camisa regata, o PG estava de calça jeans, sapatinho “Samelo docksides” e camisetinha da Lacoste (aquela com jacarézinho no peito). O nosso amigo Jason chamava-o de Doug Funny, o do desenho animado, devido a sua semelhança física.





Por muito tempo a galera pensou que ele era mais um daqueles homosexuais enrustidos, o que hoje em dia se chama de “metrosexual”. Mas depois, o rapaz provou o seu valor de ser mais um dos heróicos estudantes daquela escola.

O PG iria fazer entrevista em Manaus, se não me engano na Honda, e como bom estudante daquela escola, não perdia tempo. Não era como os caras da UNIBAN que se assustam com mulher. A galera da minha escola sempre honrou as origens! Faca na caveira! O PG não era diferente. Entrou em uma sala de chat de Manaus e começou a prospectar o ambiente com aquele famoso nick: ENGENHEIRO. O problema é que para o azar dele, eu monitorei o nick que ele estava usando e a sala exata de bate-papo que ele se encontrava. Chamei dois outros amigos no canto, o Pauta e o Motorista, e bolamos o plano maquiavélico que irei contar agora...

Pegamos eu e o Motorista um computador, enquanto o Pauta sentou-se na frente de outro micro. Me recordo que todos nós procuramos a sala de chat que o PG se encontrava e entramos com os seguintes apelidos: “Morena Procura” (eu e o Motorista) e “Loira Gaúcha em Manaus” (o Pauta). Meus amigos, foi mais fácil que tirar doce de criança....

Assim que entramos, ouvimos o PG falando lá do outro lado da sala: “Ai rapazeada (com aquele sotaque paranaense do interior que ele tinha), tou aqui no chat e acabou de entrar duas mulheres. Uma tal de “morena procura” e parece que a outra é “gaúcha” e tá lá em Manaus perdida.” Amigos, nós três tivemos que esconder a cabeça embaixo das mesas pra dar risada. Não podiamos levantar a suspeita com o nosso amigo.

Sem mais demoras, o PG começa a puxar papo com a Morena e com a Gaúcha, se apresentando como engenheiro, que fazia e acontecia, que iria morar em Manaus e queria fazer "amizades" com o povo local. Sem mais demoras começamos a dar corda e era só questão de tempo pra criança se enforcar. Me lembro que na sala do centro computacional, existiam uns 20 computadores, todos ocupados e em fração de minutos, todos na sala sabiam o que estava se passando, menos óbvio, o PG.

O papo foi rolando quente, demos realmente corda pro rapaz. Me lembro de ter ouvido ele: "Aê rapaziada (com o sotaque paranaense) tou me dando bem, a mulherada em Manaus é pra "frentex" total". Incentivamos o rapaz, dizendo que era isso aí. Já que ia morar em Manaus, tinha que ir esquematizado conhendo as mocinhas locais, coisa e tal. Me lembro que quanto mais bola dávamos para ele, mais ele sorria. O sorriso dele estampado no rosto, era como o de uma criança de três anos que tinha acabado de ganhar um carrinho de brinquedo novo.

O golpe fatal. Após uma meia hora de conversa, e com ele se achando a última bolacha no pacote, demos a última cartada. A "morena procura" manda a seguinte pergunta: "Então, já que você está vindo pra cá, que tal me dar seu telefone celular? Te ligo e aí marcamos alguma coisa!". Meus amigos, o clima no núcleo computacional estava como final de copa do mundo em refeitório de empresa, com apenas uma televisão 14 polegadas disponível. Me recordo que atrás de mim e do Motorista, olhando para a tela do computador, haviam pelo menos umas dez pessoas só esperando o tiro de misericórdia em cima do coitado. Após a pergunta da "Morena procura", meu amigo PG manda pelo chat: "Então... estou sem celular, vou deixar pra comprar um aí. Você não gostaria de me dar o seu celular e aí eu, quando chegar aí, te ligo?".

Era tudo o que a gente queria... Sem mais enrolar, digitamos o seguinte na tela do computador:
" Dá uma olhadinha atrás de você e pega o número de telefone."
Me lembro que o PG levou alguns segundos até cair a ficha dele. Ele não queria olhar, mas nesta hora o Banha, que era o monitor do centro computacional naquele dia e estava a par da ocorrência, chegou nele deu três tapinhas nas costas do rapaz e disse alto, claro e em bom tom para todos ouvirem: "Ai PG, dá uma olhadinha pra trás que a Morena Procura quer te passar o telefone dela em pessoa".

Nesta hora meus olhos já estavam cheio de lágrimas de tanto dar risada. O duro é que todos que estavam lá estavam rolando de rir! Quando ele olhou pra trás, a cara de fezes dele era a melhor. Por um instante pensei que ele ia chorar, mas apenas soltou o seguinte comentário com aquele tom de velório: "Vocês são foda! Não se faz isso com amigo".

Moral da história: Nunca entre em sala de bate-papo na internet para chavecar mocinhas com os amigos do lado.

1 Response to "Prazer. Meu nome é "Engenheiro""

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Anônimo Says....

Cara, nunca ri tanto dessa história! Conhecer o local e as pessoas dá um sabor especial! Melhor que isso, só estando lá em pessoa! Abraços...
Evandro.

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