23 de novembro de 2009
Quem mexeu no meu Queijo?
Bem, este trote não era muito comum mas mesmo assim, todos os anos sempre pegava um bixo desavisado. Em 1994 o desavisado fui eu...
Como as aulas haviam começado em março daquele ano, o primeiro feriado seria a páscoa, em abril. Hora da bixarada voltar pra casa, comer a comidinha da mamãe e trazer mais algumas guloseimas para compensar aquelas que foram “confiscadas” durante a Inspeção anti-drogas do alojamento.
Eu, como de praxe, não viajaria naquele feriado. Para falar bem a verdade, aquele seria meu primeiro feriado depois que entrei na faculdade e de cara, não voltaria para casa.
Sem nenhum amigo na cidade, tive que me juntar as poucas cabeças que ficariam lá durante o feriado. Para a minha felicidade, 99% dessas poucas cabeças eram veteranos, entre eles o ET que me apadrinhou nos primeiros meses lá.
Ilha Solteira nem de perto era um paraíso do entretenimento. Não haviam boates, o que hoje em dia se chamam “Clubs” – diga-se de passagem uma amiga minha me chamou de velho, quando falei para ela boate – nem haviam barzinhos legais, com gente legal, e outras coisas que fariam aqueles adolescentes no início da fase adulta se divertirem como em outras cidades de médio e grande porte ao redor do Brasil. A única salvação seria o Bar do D.A (já mencionado aqui nos posts anteriores) mas este ficaria fechado no feriado, já que não haveria estudantes suficientes para justificar a sua abertura. O que mais então poderia salvar o nosso final de semana prolongado do feriado? Apenas a famosa pizzaria Biruta salvaria a pátria daqueles estudantes universitários.
Em 1994, a pizzaria Biruta era um dos “points” (de dois points) daquela cidade. Não, a pizza nem de perto se compara com as pizzas de qualquer cantina da cidade de São Paulo, mas não sei o porque, o fato é que se aglomerava uma muvuca imensa na frente daquele lugar, transformando ele em um dos points (de dois points) da cidade. E naquele final de semana do feriado, este seria o destino de todos nós, estudantes ou não, para termos algum momento de “lazer”.
Me lembro que no sabado, o ET me convidou para um esquenta na república dele, antes de partirmos para o local acima descrito. Ao chegar na república do meu camarada, estavam o Omar, o Cozido e mais duas menininhas da cidade que não me recordo o nome. Tenho que confessar que como maioria das mocinhas daquela cidade, não abririam o olhos de ninguém, mas enfim... eu também ainda estava me situando no ambiente e não conhecia a regra do jogo (como fazer o “approach” nas mulheres locais). Depois de algumas caipirinhas e alguma conversa, partimos todos para o “point” disponível da cidade naquele feriado.
Antes de continuar, creio que alguns de vocês devem estar se perguntando: “O que leva alguém então a ir estudar em um lugar destes? Sem lazer, sem opções de trabalho, etc?”. Digo que também não sei, mas sei que já passou e dei muitas risadas naquele lugar.
Enfim, voltando ao assunto, chegamos em frente a pizzaria Biruta. Como diriam os surfistas: “o lugar estava crowdeado”. Gente que não cabia mais. Creio que da cidade inteira, quem não viajou naquele feriado estava lá na frente da pizzaria. Neste momento, fizemos a nossa roda e ficamos de papo observando o movimento no local. Como saco vazio não para em pé, e no nosso caso na época de estudante o que sustentava era a cerveja Schincariol, o ET se ofereceu para pagar a primeira rodada de cerveja. Ele sai da roda e o Omar e o Cozido o seguem para ajudar trazer a loira gelada. Antes de sair, ele me chama no canto e solta os seguinte comentário:
“Meu velho, aproveita que a mulherada da cidade adora um cara de cabeça raspada. Bixo aqui faz sucesso!”Neste instante, ficamos só eu e as mocinhas amigas deles, sendo que logo em seguida uma das moças some e ficamos só eu e a outra pobre alma guardando o nosso espaço no meio da muvuca.
Sem mais demoras, a moça começa a puxar um papinho mais, digamos, interessante. Queria saber o que eu gostava de fazer, se tinha namorada na minha cidade, se já tinha conhecido muita gente por lá, etc, etc, etc... Como malandro é o pato, eu mais uma vez só tentei ser esperto e lembrando das recomendações do meu amigo ET, tentei usar um pouco das minhas habilidades de “Zé Mayer”, que naquela época era apenas um pequeno gafanhoto. Eu ainda tinha muito a aprender...
Conversa vai, Conversa vem, a mocinha começa a pegar na minha mão. Eu naquela inocência, típico de bixo que acha que está mandando bem, deixo ela lá agarrando a minha mão e continuamos com aquele papinho mole. Nem havia percebido que já fazia quase meia hora que o ET e os outros tinham saído pra buscar a cerveja e com certeza eles não tinham ido em Itu buscar a bendita Schincariol.
Alegria de pobre dura pouco, como já diria meu pai. Sem mais nem menos, sinto alguém tocar no meu ombro, e quando me viro para ver quem era, só escuto aos berros:
“O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO, SEGURANDO A MÃO DA MINHA NAMORADA?”Pausa. Em situações normais, com pessoas normais, já ficaria assustado. O problema é que o cara que tinha profanado as palavras acima aos berros, não era ninguém mais, ninguém menos que.... o Jamanta!
O Jamanta era meu veterano na Engenharia Mecânica. Creio que não preciso descrever o rapaz, já que seu apelido diz exatamente o porte físico da criança, mas para aqueles que gostam de detalhes, o Jamanta deveria ter mais de 1,90m de altura e uns 2 ou 3 de largura só de músculos. Em suma... o rapazinho era grande.
Quem me conhece hoje em dia, sabe que tenho alguma carne em cima dos esqueletos, principalmente na região abdominal depois de anos de cerveja. Não que eu seja um Schwarzeneger da vida, mas perto do que eu era na época, com 17 anos, tenho que confessar que a alcunha de “chassi de grilo” me caia bem.
Quando ele “sussurou” aquelas palavras, perguntando o que eu estava fazendo segurando a mão da namorada dele, mais que depressa tentei soltar a mão da menina. Não, não consegui soltar. A lazarenta ficou segurando minha mão como se eu fosse salvar ela de despencar de cima de um prédio. Nesse momento, toda a muvuca no local estava olhando a cena e alguns outros veteranos tentavam segurar o Jamanta. Entre eles o Pé Inchado e o Barrão, que também era tão grandes quanto o Jamanta.
Sem mais demora, o Barrão falou: “Bixo, corre! Tá dificil de segurar o homem! Corre!”. Nesse instante o ET vendo a cena grita: “Vai lá pra república, depois conversamos”. Caros amigos, creio que naquele momento, perdi a oportunidade de ter feito a vida como corredor de velocidade. Meu amigo Usain Bolt novamente ficaria com vergonha, mas se tivesse alguém cronometrando, eu lhes garanto que bati o recorde dos 100m na casa do 8 segundos e alguma coisa. Disparei e fui parar apenas na república do ET.
Chegando lá, fui direto para a cozinha tomar água, recompor meu estado e dei uma olhadinha rápida no espelho. Estava branco igual folha de papel. Pensam que a brincadeira parou aí? Não... dez minutos após, escuto baterem na porta e quando abro, quem está na minha frente? O Jamanta. O próprio.
O Jamanta já chega anunciando que iria me matar. Pensei em todos os momentos tristes e alegres da minha vida e olhe que só tinha 17 anos naquela época. Quando achei que ia apanhar igual cachorro sem dono, ele dá um tapa nas minhas costas e sorrindo, fala: “Relaxa bixão, é só mais um trote!”. Naquela hora, fiquei mole igual gelatina. Antes, todos os músculos que eu tinha no corpo estavam tão contraídos esperando o pior, que tive caimbras até onde não imaginei que o ser humano poderia ter.
Logo após o Jamanta anunciar que era trote, entram todos na casa: As duas mocinhas (inclusive a lazarenta que fez parte do trote), o Cozido, Omar, Barrão, o Pé Inchado e o ET. A noite acabou com um dos tradicionais churrascos regados a Schincariol e carne de terceira, enquanto a turma dava risada da minha cara e eu tentava me recuperar das caimbras pelo corpo...
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